terça-feira, março 21, 2006

A Insustentável Leveza do Ser

Depois de anos ouvindo que este filme era ótimo, perfeito e blá, blá, blás eu consegui assistí-lo. Aguentei firme suas quase 3 horas de duração e descobri que em uma já bastaria. Já li livros que após as primeiras páginas já sei o todo e esse filme é o mesmo. É horrível ter espectativas sobre algo e ver as mesmas irem por água abaixo. O maio de 68 que faz parte do filme é apenas um cenário passageiro. É muito difícil imaginar de quem é a culpa, mas colocaria na direção pois não posso culpar Daniel Day-Lewis e Juliette Binoche pois eles tentam. Falta algo que eu chamaria de profundidade e um pouco mais de realidade.

domingo, março 19, 2006

Tédio Real

Meus olhos fitam a planície que do alto desse monte vejo se espalhar até a floresta. É meio-dia e o Sol fustiga o campo. Não há vento, nem uma brisa. Sinto as gotas de suór sob o elmo que um dia já foi mais leve. Meu corcel relincha entediado de estar parado aqui em cima com meu peso sobre ele. Ouço à distância o som de aço contra aço. Meus soldados estão travando uma luta contra alguns infelizes que em vez de correr para suas casas continuam lutando. Talvez prefiram morrer pela lâmina de uma espada do que voltar para casa para morrer aos poucos no meio da miséria. Talvez eu não fugisse por causa do calor da batalha ou pelo desânimo de voltar ao mundinho das fazendas. Alguns arqueiros descem o monte para treinar a pontaria nos fujões. Correm velozmente e em ordem e confirmam em batalha que são meus soldados mais disciplinados. Passam pelos catadores que se espalham entre os mortos retirando flechas, espadas, escudos e tudo o mais que tiver valor. A maioria são meninos. Próximo deles está o capitão de minha guarda. Ele percorre o campo de batalha para tirar a vida dos que não possuem mais salvação. Chamam-no de O Misericordioso mas a maioria não sabe que ele sente um bizarro prazer nesta tarefa.
Atrás de mim dois guardas param de conversar quando uma figura se aproxima montada num belo cavalo marrom e branco. Suas nobres vestimentas reluzem no Sol e um seria um bom alvo para um arqueiro, mas infelizmente ele é o primo de minha esposa e com certeza me pagaria mais impostos se não o fosse. Ele agradece a ajuda para expulsar os invasores e discorre sobre a honra de lutar ao meu lado. Lutar? Deve ter ficado na sua barraca se empanturrando. Faço um gesto com a mão e ele entende que não quero conversa. Me comprimenta e se vai. Arrumo minha postura que já estava parecendo um arco e sinto as dores da velhice. Para me ajeitar melhor apoio uma mão sobre o cabo da espada que já não uso faz algum tempo. Agora mando os outros fazerem meu trabalho e não sinto mais prazer na vitória, menos ainda na batalha.
Morrerei na minha cama durante o sono. Quando se é um velho rei ninguém tem pressa em retirá-lo do poder pois sabe que logo sairá por si mesmo. Não tenho mais inimigos, só a política e a economia. Meu filho mais velho tomará meu lugar sem se esforçar muito pois espero entregar-lhe um reino forte. Minha atual esposa que é bem jovem, arrumará outro, se já não o fez. Ainda falta casar uma filha mas isso será fácil. De todo o reino só levarei minha espada e meu elmo. Lutei bem e acho que serei bem recebido junto aos deuses. Vejo os arqueiros e os soldados voltando. Acabou. Faço o corcel dar meia volta e sigo para a estrada com meus guardas . Uma batalha de uma manhã que foi mais uma obrigação real. Agora volto para os braços e as coxas de minha esposa e para a burocracia do reino. Dia após dia a esperar a morte.

só um ensaio, não plantei uma árvore e nem tive um filho, mas essas são as partes fáceis. Escrever um livro é bem mais difícil.