terça-feira, junho 19, 2007

Formigas


Duas pessoas em sentidos opostos na escadaria do metrô se esbarram.

Menina de cabelos vermelhos (MV):- Desculpe.

Menino Bonitinho (MB):- Desculpe.

A menina segue uns poucos passos em seu caminho, mas acaba voltando rapidamente:

MV: – Podemos comecar de novo?
Sei que não nos conhecemos...
mas eu não quero ser uma formiga.

Passamos pela vida
esbarrando uns nos outros...
sempre no piloto automático,
como formigas...
não sendo solicitados a fazer
nada de verdadeiramente humano.

Pare. Siga. Ande aqui. Dirija ali.
Acões voltadas
apenas à sobrevivência.

Toda comunicação servindo para
manter ativa a colônia de formigas...
de um modo eficiente e civilizado.

"O seu troco." "Papel ou plástico?"
"Crédito ou débito?"
"Aceita ketchup?"

Não quero um canudo. Quero
momentos humanos verdadeiros.

Quero ver você.
Quero que você me veja.
Não quero abrir mão disso.
Não quero ser uma formiga, entende?

MB: Sim, não...
Eu também não quero ser uma formiga.
Obrigado pela sacudida.
Tenho andado feito um zumbi...
no piloto automático. Não me sinto
como uma formiga, mas pareço uma.

MV: – D.H. Lawrence teve a idéia
de duas pessoas se encontrarem...
e, ao invés de apenas passarem...
aceitarem "o confronto entre
suas almas" .

É como libertar os deuses corajosos
e inconseqüentes que nos habitam.


Esse diálogo é do filme Walking Life, que lembra, só de leve, MINDWALK (que com certeza é melhor) mas vale assistir e claro, tem que prestar atenção.

Mas é sobre o diálogo aí acima do qual gostaria de falar...
Quantas pessoas interessantes estão a passar a sua frente e não nos percebemos pois somos todos formigas. Esses deuses corajosos e inconseqüentes teriam que estar livres dentro de nós.

Mas somos medrosos e tímidos, egoístas também, quem sabe?

Uma amiga me disse uma vez que as pessoas não conversam mais nos bares, são apenas rodinhas que só se desfazem quando rola uma paquera ou algo do gênero, ninguém puxa conversa. Claro, ela estava generalizando mas é mais ou menos isso.

Cada vez mais, protegidos pelos fones do mp3player não damos atenção ao mundo, ou andamos sozinhos no carro enquanto tantas pessoas irão trabalhar em algum lugar que faz parte de nosso caminho. No máximo comprimentamos os vizinhos por educação, geralmente no elevador ou no portão de casa antes de ir trabalhar. Compramos casas em condomínios onde pessoas não andam a pé. Falamos com os amigos pela internet abreviando a língua e as emoções. Mandamos mensagens pelo celular.


É... somos formigas.


P.S. Me lembra também um post meu antigo chamado piloto automático

Um comentário:

Lili disse...

Procurei e não consegui encontrar este outro post "chamado". Quero lê-lo, onde está?

Vou ver este filme.